sábado, 13 de setembro de 2008

BRASIL

BRASIL ESPORTE CLUBE

No dia 19 de julho de 1919 um grupo de amigos, que gostavam de futebol, reuniram-se na Confeitaria Samuel Kratz em Blumenau e fundaram o Brasil Esporte Clube. As cores adotadas foram branca e verde.

A sede temporária foi numa sala do tradicional Hotel Esperança, cedida pelo proprietário Bausch, na rua XV de Novembro, onde mais tarde foi erguida a Casa Willy Sievert.

O comerciante e esportista Arthur Rudiger foi escolhido para ser o primeiro presente. A diretoria inicial teve os seguintes nomes:
Presidente Arthur Rudiger
Vice-presidente Carlos Sada
1º Secretário Fritz Gassenferth
2º Secretário Vitorino Braga
Tesoureiro Alfredo Campos
Orador Armando Rios
Encarregado de Esportes Fritz Amann

Nos primeiros anos era difícil encontrar adversários. Por isso, os atletas do Brasil eram divididos em duas equipes e realizavam acirrados jogos no precário campo situado na rua das Palmeiras. O local tinha um desnível de quase um metro e cheio de imperfeições.

A abnegação e esforço de atletas, comissão técnica e de dirigentes conseguiu nivelar e dar melhores boas condições. Foi construída uma cerca de madeira e colocação de novas traves.

A maioria dos jogadores, mesmo em dias de chuva ou forte calor, não mediram esforços para finalizar as obras. Com pás e enxadas nas mãos eles suaram para dar ao Brasil um lugar onde poderiam orgulhar-se e jogar.

A inauguração do campo ocorreu no dia 3 de junho de 1927 com a realização de cinco jogos. Pela manhã, houve dois jogos amistosos: Brasil C 2 x 0 Amazonas B e Brasil B 0 x 5 Blumenauense B.

No período vespertino, por volta das 14 horas, teve início o Torneio Orlando Neves. Os jogos tinham duração de 60 minutos (30 minutos cada tempo, sem intervalo), fato comum ainda preservado nos festivais esportivos de nossos dias.

O Brasil venceu o clássico contra o Blumenauense por 2 a 1 e o Brusquense goleou o Bom Retiro por 4 a 1. Na final o anfitrião venceu o time de Brusque por 2 a 1 e conquista a Taça Orlando Neves.

A equipe campeã atuou com Orlando; Emilio Sada, Guerreiro, Razzini, Krebski, Buhn, Mário, André Sada, Lindolfo Natal, Nico e Curt Probst.

CAMPEONATO CATARINENSE

Em 1926, a Liga transformou-se em Federação Catarinense de Desportos (FCD), obtendo filiação na Confederação Brasileira de Desportos.

O Brasil de Blumenau foi o primeiro representante do interior do Estado a filiar-se na FCD. A aprovação da inscrição ocorreu em 20 de setembro de 1927, conforme oficio número 212 de 22 de setembro enviado ao clube.

Em 2 de outubro de 1927, antes de viajar para o Rio de Janeiro, onde disputaria o Campeonato Brasileiro de Seleções, o selecionado Catarinense, com André Sada entre os convocados, realizou um jogo amistoso com o Brasil de Blumenau. O “scratch” barriga verde venceu por 6 a 1.

A Federação havia planejado um amplo Campeonato Catarinense em 1927, com a possível participação de equipes de Joinville, Blumenau, São Francisco do Sul, Itajaí, Tijucas, Tubarão e Brusque.

Mas o precário sistema rodoviário existente na época – não havia pavimentação asfáltica - e a estrutura ainda instável de clubes, inclusive da própria Federação, fez mudar os planos.

Com apenas um clube do interior, a FCD optou por realizar uma partida entre Brasil e Avaí Futebol Clube, campeão da Capital, para decidir o título de campeão estadual.

A histórica partida ocorreu no dia 15 de janeiro de 1928, no campo da Liga (mais tarde transformado em estádio Adolfo Konder), em Florianópolis.

O Brasil chegou na Capital com a fama de melhor time do Vale do Itajaí. Os blumenauenses, mesmo derrotados, tinham deixado boa impressão no amistoso diante da Seleção Catarinense.

Os irmãos Emílio e André Sada, o centro médio Neto e o atacante Natal eram vistos com respeito pelos adversários. Sada defendia a posição de destaque que recebeu da imprensa carioca durante o Campeonato Brasileiro de Seleções.

Um público estimado em 400 pessoas (incluindo crianças, mulheres, penetras, convidados e pagantes) esteve presente, número razoável para a época.

O jogo teve um início assustador. A impressão era que os atletas nunca haviam jogado futebol. O peso da decisão e a rivalidade já existente entre interior e Capital colocava os nervos em alta rotatividade.

A bola era freqüentemente atirada para longe do gramado. O lema “bola pro mato que o jogo é de campeonato” já era seguido à risca.

A arbitragem foi amplamente criticada pelos dois times. No intervalo houve a troca de árbitro. O criticado Carlos Baptista foi substituído por Frederico Ewald. A iniciativa não foi melhorou a situação disciplinar e técnica.

O Jornal Folha Nova, de Florianópolis, relatou em notícia sobre o jogo que “o senhor Frederico Ewald, todas as vezes que ia indicar o local onde havia ocorrido uma falta, caminhava a passo de lesma...Veremos futuramente o “referee” atuar sentado em uma poltrona”.

O confronto sequer chegou ao fim, pois o time alvi-verde abandonou o campo após um penalti marcado nos minutos finais a favor dos avaianos.

A confusão aconteceu até no placar do jogo. Dois gols marcados – um para cada equipe – foram prudentemente anulados pelo árbitro. O Avaí venceu por 2 a 1 e sagrou-se campeão. Accyoli e Sabas marcaram para os azurras e Natal para os blumenauenses.

Em sessão de 17 de março de 1928, a Federação homologou o Avaí campeão do Estado e enviou carta aos clubes em 20 de março de 1928, informando que “independente da apresentação do relatório do boletim (súmula)”, o jogo terminou 3 a 2 para o Avaí.

No ano seguinte, a FCD conseguiu novas filiações. Quatro equipes do interior (Brasil de Blumenau; Caxias de Joinville e Brasil de Tijucas e Independência, de São José) inscreveram-se para o Campeonato Estadual. O vencedor de uma fase classificatória disputaria a final em Florianópolis contra o Avaí, tricampeão da Capital.

O Caxias nem chegou a entrar em campo. Alegou que o telegrama informando a data e local do jogo contra o Brasil, em Blumenau, chegou em cima da hora e resolveu não viajar. No domingo seguinte foi a vez do Brasil não ir a Joinville. A Federação estudou o caso e confirmou os blumenauenses na fase seguinte.

No dia 24 de fevereiro de 1929, em Blumenau, O Brasil blumenauense superou o homônimo tijuquense por 6 a 0. Uma vitória histórica, a primeira oficial de um clube de Blumenau.

A final do campeonato ocorreu no dia 3 de março, no campo da Liga, em Florianópolis. O Avaí venceu por 4 a 1. O resultado foi bastante contestado pelos blumenauenses. Um clima hostil, brigas em campo e fatos que causaram indignação aos atletas e dirigentes levaram o Brasil e desligar-se da FCD.

A ausência durou menos de um ano. O clube foi reintegrado e inscrito no campeonato de 1929. A estréia foi no dia 1º de dezembro, em Brusque, e o Brasil massacrou o Brusquense por 10 a 2. Na segunda fase foi a Itajaí e perdeu de 3 a 1 para o Lauro Müller encerrando a competição em quinto lugar.

CAMPEÃO ESTADUAL, MAS NÃO MUITO

Em 1930 e 1931 o Brasil esteve ausente do estadual. Voltou em 1932 e passou por uma experiência terrível e dolorosa. Talvez a pior da Era Brasil.

Quatro equipes inscreveram-se para o campeonato: Figueirense, campeão de Florianópolis; Brasil de Tijucas, Bom Retiro e Brasil, os dois de Blumenau.

No dia 11 de dezembro de 1932 o Brasil venceu o Bom Retiro por 4 a 1, gols de Artilheiro, André Sada (2) e Mário. Krepski fez o gol do alvinegro.

Na semifinal, dia 18, o adversário foi o conhecido Brasil de Tijucas. O representante de Blumenau venceu por 6 a 3, gols de Leal (3), Ramos, Artilheiro e Mário.

A decisão seria contra o Figueirense no estádio Adolfo Konder, dia 8 de janeiro de 1933. Uma excelente atuação do Brasil empate de 1 a 1 no tempo normal. Na prorrogação, Mário fez o gol que deu o título de campeão catarinense aos blumenauenses.

O retorno da delegação alvi-verde e a chegada em Blumenau foi festiva e os atletas voltaram como heróis.

A alegria durou pouco tempo. Pouco menos de 96 horas depois da partida, a Federação recebeu protesto do Figueirense. A alegação era que o centromédio José atuou de forma irregular.

O caso não ficou bem esclarecido, mas a informação era que o atleta havia sido contrado junto ao Caxias de Joinville por 1.500 réis, o que a legislação da época não permitia. O futebol ainda era amador.

O Brasil teve o título cassado e a FCD marcou uma nova decisão para o dia 22 de janeiro, mais uma vez no estádio Adolfo Konder.

O forte e quase insuportável calor do verão ilhéu não impediu que muitas senhoras e belas jovens dessem ao ambiente um aspecto alegre e festivo.

O primeiro tempo foi bastante disputado e a vantagem foi alvinegra, 4 a 2. André Sada desperdiçou a cobrança de penalti chutando nas mãos do goleiro Metralha. O fato causou certo desânimo ao Brasil.

Antes de iniciar o segundo tempo, os dirigentes do Brasil solicitaram em vão a troca do árbitro. O clima e a situação criada em volta do jogo mostrava que o time blumenauense viria a conquistar a vitória.

O “emprego da brutalidade foi injustificavelmente franqueado” pelo árbitro, segundo publicou o jornal A Pátria, de Florianópolis. Isso fez desaparecer o brilho que o evento prometia. Muitas famílias reclamaram a prática abusiva de faltas e a isenção do juiz da partida em coibi-las.

A principal vítima foi o atleta Heitor Ferraz, do Brasil. Num choque violento com um jogador do Figueirense, ele teve a perna fraturada. Teve que ser levado ao Hospital de Caridade onde os médicos imediatamente fizeram exames e colocaram gesso. Schurmann sofreu grave lesão no rosto, mas não precisou ser hospitalizado.

A violência, a má arbitragem, a fratura de Ferraz, a contusão de Schurmann e a falta de esperança em reverter a situação, proporcionou desinteresse na equipe do Brasil. Com isso o jogo transformou-se num ataque contra defesa em favor do alvinegro.

O goleiro Eurico fez defesas fantásticas e causou admiração dos maravilhadores torcedores presentes no campo da Liga. Mesmo com sua grande atuação o placar ficou em 7 a 3 para o Figueirense, que desta forma sagrou-se campeão estadual.

O Brasil atuou com Eurico; Marquadt, Dário, Ferraz, José (ele mesmo), Schurmann, Mário, Tico, Artilheiro, Andre Sada e Leal.

Em matéria publicada no dia 25 de janeiro de 1933, o jornal A Patria publica reportagem sobre o profissionalismo no futebol e discute o caso José, que levou a federação a marcar uma nova final do Estadual. Questiona também porque José atuou no segundo jogo. Afinal, se estava irregular no primeiro, porque estaria em condições desta vez?

O Brasil retornou para Blumenau decepcionado e sem Heitor Ferraz, que ficou internado no Hospital de Caridade. O atleta viria receber alta apenas em março.

Quinze dias depois do fatídico jogo do Estadual, o Brasil volta a jogar. Desta vez enfrentou em amistoso o Combinato de Itajaí. Venceu fácil por 6 a 1.

O Figueirense continuava entalado na garganta e a diretoria convidou o campeão catarinense para um jogo em Blumenau. Convite prontamente aceito pelos alvinegros.

No dia 15 de fevereiro, no campo da rua das Palmeiras, o Brasil atropelou o Figueirense por 8 a 1. Mostrou para todo o estado que era o campeão, mas o melhor de Santa Catarina. Foi apenas um amistoso, mas serviu para erguer o moral da nação alvi-verde.

Neste período de bom futebol, o Brasil registrou excelentes resultados e até um placar histórico: no dia 2 de abril de 1933 atropelou o Vitória, do bairro Velha, por 15 a 2.

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